À Conversa com… Francisco Valente Jerónimo

“À CONVERSA COM…”

Ex. Provedor Santa Casa da Misericórdia de Alijó
FRANCISCO VALENTE JERÓNIMO

Fundada em Maio de 1901, a SCMA assume-se como uma associação de fiéis, constituída na ordem jurídica canónica e que tem como principal objetivo servir a comunidade onde se insere, satisfazendo as suas carências sociais e, ao mesmo tempo, praticar atos de culto católico em harmonia com o espirito tradicional. Para além da sua dimensão ao nível dos serviços prestados, a SCMA é hoje também uma das maiores empregadoras do concelho de Alijó. Conta atualmente com uma oferta de treze respostas sociais e cerca de cento e trinta colaboradores. Mas nem sempre foi assim!

Dada a sua história rica ao serviço da comunidade e porque também é missão desta instituição dar-se a conhecer enquanto agente de desenvolvimento local, iniciamos hoje um ciclo de conversas com aqueles que diariamente dão, ou deram no passado, o melhor de si em prol da instituição. O desafio que lhe deixamos é que embarque connosco nesta pequena viagem ao passado da SCMA e que fique a conhecer melhor o caminho que a mesma fez até se tornar no que é hoje.

O nosso primeiro convidado é Francisco Valente Jerónimo. Quis a circunstância de uma vida que viesse para Alijó enquanto Inspetor do Ministério da Justiça. Por cá casou, sendo sua esposa natural de Santa Eugénia, e por cá constitui a sua família e se tornou uma das principais figuras da SCMA. Conhecido pelo seu empenho, determinação e máximo rigor, Francisco Jerónimo abraçou o projeto da SCMA quando a mesma apenas contava com uma oferta de seis respostas sociais e cerca de cento e vinte e quatro utentes. Foi provedor da SCMA durante mais de trinta e um anos, funções apenas interrompidas entre 1978 e finais de 1980. Quis o destino que se voltasse a sentar na cadeira de Provedor em 1981 e que se constituísse naturalmente e por força do seu trabalho como figura central no crescimento inquestionável da SCMA, tornando-a uma referencia não só no concelho de Alijó como em toda a região do interior norte.

Entrevista:
SCMA: No Plano pessoal, conte-nos como acontece a sua vinda para Alijó?

Francisco Valente Jerónimo: Como sabem, eu apresentei-me em Alijó em 1977. Quando vim para Alijó as minhas relações eram com várias pessoas, designadamente com o Dr. Barroso, que na altura era pároco da freguesia. Passado algum tempo de estar em Alijó, o ex. Padre Barroso convidou-me para a Mesa de Assembleia da Misericórdia. Entretanto correram uns meses, o Padre Barroso teve que sair mas indicou-me como Provedor. Ora, foi a partir daí, como o tribunal ficava mesmo pertinho da casa do Padre Barroso, que eu então endendi que devia continuar porque, como já disse, ainda cheguei a trabalhar algum tempo como Mesário.

 

SCMA: O que o motivou, à época, a abraçar o projeto SCMA?

FVJ: Como sabem, eu apresentei-me em Alijó em 1977. Quando vim para Alijó as minhas relações eram com várias pessoas, designadamente com o Dr. Barroso, que na altura era pároco da freguesia. Passado algum tempo de estar em Alijó, o ex. Padre Barroso convidou-me para a Mesa de Assembleia da Misericórdia. Entretanto correram uns meses, o Padre Barroso teve que sair mas indicou-me como Provedor. Ora, foi a partir daí, como o tribunal ficava mesmo pertinho da casa do Padre Barroso, que eu então entendi que devia continuar porque, como já disse, ainda cheguei a trabalhar algum tempo como Mesário.

 

SCMA: Como foi o processo de eleição enquanto Provedor da instituição e como foi a sua adaptação?

FVJ: Muito fácil! Foi tão fácil essa adaptação que me mantive lá durante cerca de trinta e um anos, talvez mais um bocadinho. Houve um interregno porque eu convidei o Professor Morais de Carvalho para ocupar o cargo, reconhecia-lhe a capacidade. Ele aceitou o lugar de provedor, mas passados três anos quis sair. Ora, como ele tinha a sua vida, estava a dar aulas, eu decidi reassumir até 2011, data em que eu indiquei o Eng. João Manuel Costa para me substituir.

 

SCMA: Como caracteriza a SCMA na altura em que se tornou Provedor? Qual era a oferta?

FVJ: Quando entrei, as valências eram o Hospital e a Creche, o primeiro Lar. Mais tarde fizeram-se umas obras e acrescentou-se espaço ao Lar. Havia muita gente que pedia uma vaga e houve necessidade de o aumentar.

 

SCMA: Qual o impacto social que a SCMA tinha na comunidade e de que forma a provedoria interagia com a mesma?

FVJ: Em relação aos corpos sociais, eu gostei muito de trabalhar com todos eles – alguns até ainda sou amigo. Em relação ás pessoas de fora a mesma coisa. Ao nível das relações – já o tenho dito muitas vezes – nunca tive um único problema com qualquer pessoa. Tudo correu às mil maravilhas! Eu trabalhava muito no gabinete, tinha a minha profissão e as pessoas quando se dirigiam a mim para tratar de assuntos relacionados com a creche ou o lar foram sempre de uma delicadeza extraordinária, respeito e cordialidade. E eu retribuí também, sempre!

 

SCMA: Quais os principais desafios que enfrentou quando chegou à SCMA?

FVJ: Confesso-lhe que não notei grandes dificuldades, mesmo com o corpo de funcionários cuja maior parte já está reformada, foram sempre muito educados e respeitosos. Só tenho que dizer bem quer dos funcionários em particular, quer das pessoas com quem trabalhei no geral.

 

SCMA: Qual foi o seu projeto bandeira?

FVJ: O meu primeiro projecto foi o alargamento do lar da terceira idade. Começamos por aí, sempre com a colaboração quer dos Mesários quer das pessoas das minhas relações e da comunidade em geral. Depois a remodelação da Creche. Tivemos que construir o novo edifício e no edifício onde estava instalada a creche, fizemos umas grandes obras, onde ainda investimos um bocado, e fizemos a secretaria e o salão nobre. Depois, outra obra grande, foi a remodelação do antigo hospital – não no hospital inaugurado em 1941 mas sim o edifício onde funciona a farmácia do hospital. Nele criamos sete escritórios, mais habitações. E a farmácia também, que nos deu muito dinheiro a ganhar. Constato que, por exemplo, as obras do edifício do Lar da terceira idade não foram subsidiadas e foi tudo feito a expensas exclusivas da SCMA, embora a Segurança Social tivesse sempre conhecimento das obras que realizamos. Acontece que eu na altura teria que arranjar alguém para fiscalizar as obras e a Segurança Social prestou um enorme e importante apoio.

 

SCMA: Concorda com a ideia de que projetos como o da UCCI ou do Centro de Dia do Pinhão contribuíram decisivamente para o crescimento da SCMA (pela dimensão e pelo alargamento geográfico para o sul do concelho)?

FVJ: Eu acho que sim. Contribuíram muito, penso eu!

 

SCMA: Conte-nos um pouco de alguma história relacionada com esses projetos?

FVJ: Em relação ao Centro do dia do Pinhão particularmente, realmente eu tudo fiz para que se fizesse e aconteceu realizar-se a obra. Essa obra já foi inaugurada no tempo do novo Provedor mas foi preciso ir muitas vezes à Segurança Social para desbloquear inúmeras situações e consegui que nos autorizassem a realização do projecto. Mas como digo, já foi construído no tempo do atual provedor.

 

SCMA: Como comenta o crescimento exponencial da SCM e o impacto que hoje tem no concelho de Alijó?

FVJ: Sabe, eu ia às reuniões todas que eram feitas na União das Misericórdias, em Fátima, e aí trocava muitas informações com os outros Provedores e responsáveis e tentávamos sempre ver e ouvir para recolher ideias para desenvolver o mais possível a instituição.

 

SCMA: Na sua opinião, quais os principais pergaminhos que devem nortear a gestão de instituições com a mesma matriz da SCMA?

FVJ: Eu penso que é a dedicação! Se houver dedicação vai-se longe, se não é muito mais difícil.

 

SCMA: Como caracteriza a SCMA na altura em que se tornou Provedor? Qual era a oferta?

FVJ: Quando entrei, as valências eram o Hospital e a Creche, o primeiro Lar. Mais tarde fizeram-se umas obras e acrescentou-se espaço ao Lar. Havia muita gente que pedia uma vaga e houve necessidade de o aumentar.

 

SCMA: Como comenta o papel do Estado Central e das Instituições públicas locais no apoio a instituições que prestam serviços fundamentais às comunidades?

FVJ: Confesso que poucas vezes recorri a essas instituições, poucas vezes! Mas as relações também foram sempre muito boas. Havia uma envolvência grande de todos.

 

SCMA: Foi provedor durante cerca de 30 anos, trabalhou com diferentes colaboradores e é talvez o grande responsável pelo crescimento da instituição. De todo esse tempo, qual foi para si o melhor período enquanto Provedor?

FVJ: Eu gostei sempre da Misericórdia! Nunca tive qualquer problema não só com os restantes Mesários como com o pessoal, os funcionários e todas as pessoas de fora.

 

SCMA: Como comenta a sua política de gestão? É ainda hoje reconhecido por todos que o Sr. era bastante rigoroso na gestão da instituição. Como comenta essas referências?

FVJ: Em relação a isso, eu sou acusado de ser muito rigoroso mas entendo que se eu aceitei o lugar de Provedor foi para defender os interesses da Misericórdia. Devo dizer que, mais do que uma vez e de “tantos em tantos anos”, aconteciam visitas a vários países onde há Misericórdias e eu ia muitas vezes e achava sempre por bem visitar, ver e ouvir. Poupava bastante, não deixava desperdiçar! Tive sempre muito apoio quer da mesa quer do concelho fiscal mas também de toda a comunidade, que se portou sempre dignamente. Com a máxima franqueza, todas as pessoas me deixaram saudades! A Misericórdia aproveitava todos os tostões para poder chegar ao final do ano e ter algumas importâncias de reserva – e as mesmas chegaram a atingir os 12 mil contos, por causa dos prontos pagamentos. A SCMA pagava a pronto pagamento e as empresas davam – já não me recordo bem – à volta de 3% de desconto. Portanto, nós também ganhávamos muito dinheiro com os descontos a pronto pagamento. Sabe que, talvez pela minha profissão, eu perguntava muito aos colegas sobre a imagem que tinham “da minha casa”, sobre a imagem que tinham de nós.

 

SCMA: Quais as melhores recordações que guarda dos seus anos de trabalho na SCMA enquanto provedor? Há alguma história caricata que queira partilhar connosco, alguma maroteira que lhe tenham feito?

FVJ: Se me fizeram alguma não me apercebi (risos). Mas é natural que sim! São lugares não remunerados e nem todos os querem mas devo dizer-lhe que me dediquei imenso à Misericórdia. Por exemplo, quando precisava de tratar de alguns assuntos fora do concelho ou quando as reuniões era em outros países, quando era na apresentação das despesas com deslocações ou refeições, eu não metia as despesas nas contas. Ou quando precisava de tratar de assuntos relacionados com a Misericórdia, por exemplo com os engenheiros ou arquitetos, eu tinha que resolver os problemas e resolvia-os a bem da Misericórdia. Podia andar de táxi mas fazia questão de andar de autocarro porque entendi que não devia gastar muito dinheiro à Misericórdia. Gastava apenas o indispensável! Tudo isso contribuiu para que fizesse um trabalho próspero.

 

SCMA: Qual a mensagem que quer deixar a todo o universo da Stª Casa da Misericórdia de Alijó?

FVJ: A mensagem que deixo é que ficarei muito contente se eles continuarem a desempenhar com honorabilidade as funções que lhes foram confiadas. A mensagem terá que ser essa. Desejar-lhes um bom futuro, deles e da Misericórdia. Cuidar dela e enquanto estiverem nos lugares podem fazer muito. Façam sempre tudo pelo melhor. Os meus desejos são que corra sempre tudo pelo melhor!