Neste ano atípico muito se alterou no nosso quotidiano. Com o surgimento da pandemia causada pela Covid-19 muitos sacrifícios foram pedidos a todos os portugueses: isolamento social, distanciamento físico, teletrabalho, telescola, passaram a fazer parte do nosso dia a dia, tal como comer e respirar. Estamos neste momento limitados nas nossas relações e afetos e nós, humanos, não sobrevivemos isolados, temos necessidade fundamental de ligação ao outro, sendo essa ligação elementar para a espécie humana. O toque é extremamente importante, é o primeiro sentido que surge quando nascemos e o último a desaparecer, antes de morrermos. E esta pandemia retirou-nos o toque, uma ferramenta importantíssima que nos permite regular as emoções e procurar de sinais de segurança, que passam pelo contato com o outro.
Nesta situação, todos nos sentimos ameaçados, somos constantemente bombardeados com notícias a darem-nos imagens assustadoras do país e do mundo. Estamos obviamente focados em tudo o que é negativo, para além do que nos isolou socialmente e nos distanciou fisicamente. À medida que esta situação vai perdurando e as restrições ao nosso dia a dia se vão mantendo, prolongando e até aumentando, emoções como o medo, raiva, o ressentimento, o desespero, a tristeza e mesmo até a depressão podem-se desenvolver e ir crescendo. E agora, com o aproximar da época natalícia, o isolamento pode tornar-se provavelmente mais pesado e mais difícil de suportar.
O Natal é por excelência a festa de celebração dos afetos. Mais do que o convívio, comemoramos a união fraterna e o sentimento de pertença, a harmonia e paz. Celebramos o nascer de Cristo, e esta época é impregnada de esperança, de fé e renovação de votos para um novo ano que se avizinha. E neste Natal em que mais uma vez há a grande probabilidade de não o podermos festejar com a família alargada, como estamos habituados.
E principalmente nestes dias, aqueles sentimentos mais negativos poderão acentuar-se ainda mais. É importante reforçar os comportamentos de tolerância, compaixão e afeto, pois estamos todos no mesmo barco e enfrentamos todos o mesmo desafio. Devemos manter uma distância física para assim nos protegermos uns aos outros, e também nós ajudarmos a salvar vidas. O isolamento social não implica distanciamento, não necessitamos de distanciamento, mas sim de um relacionamento seguro, e nesta fase, temos de vivenciar os nossos afetos e relacionamentos de forma segura, mas infelizmente, distante.
E para todos é vitalmente importante que continuemos a nos relacionar com os familiares, amigos, conhecidos e colegas.
Neste Natal mantenhamos viva a luz da esperança de que melhores dias virão e relacionemo-nos uns com os outros com segurança para que nos possamos voltar a abraçar em breve e celebrar a vida.
Por Patrícia Loureiro, Psicóloga Clínica
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