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Testemunhos

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SCMA em Tempo de Pandemia Covid-19

ELSA GUEDES (Centro Social do Pinhão)

Tivemos que alterar a carga horária, andar a nossa maneira de vestir (ter que andar com toda a proteção e mais alguma), com todos os cuidados. Sentíamos que os nossos idosos estavam muito isolados, nós íamos todos os dias ao encontro deles, mas foi mau para todo nós. Foi preciso ter paciência, muita calma e às vezes um bocadinho de desespero, mas tudo se ultrapassou. Trabalhamos bem em equipas Espelho, tentamos trabalhar pelo melhor, fizemos o melhor que pudemos. Tivemos uma semana de 12 horas de trabalho e outra de 7 horas e meia, alternadamente. Tivemos que lidar com a situação e fizemos com gosto. Os nossos utentes tiveram que alterar as rotinas. Estavam habituados a estar no Centro a passar o tempo e a fazer as atividades, depois notava que se sentiam muito isolados em casa. Até ao nível das compras, eramos nós que lhes fazíamos a compras e depois íamos lá entregar a casa.

 

FERNANDA MEIAS (Centro Social do Pinhão)

Foi uma época um bocadinho complicada, o nosso trabalho não é assim muito fácil, mas ultrapassou-se. Usar o equipamento de proteção foi algo novo, não estávamos habituados e custou um pouco. Tentávamos gerir o comportamento dos nossos utentes. Eles gostam muito de estar aqui, de fazer as atividades, e em casa estavam sozinhos. Com a reabertura do Centro de Dia, apesar das regras, notou-se que ficaram muito contentes. Conforme ia passando o tempo, nós íamo-nos adaptando. Gerir o trabalho e a família foi complicado porque passávamos muitas horas a trabalhar. Foi uma questão de hábito! Não podíamos sair de casa, foi complicado… mas tentamos sempre gerir da melhor maneira. O mais difícil foi convencer a minha mãe de que não podia ir visitá-la. Não tanto a adaptação dela à situação, mas sim o não compreender o porquê de não puder ir vê-la. Os principais cuidados de higiene eram a desinfeção, as máscaras… mesmo em casa. Usávamos bata, luvas, avental, máscara e viseira. Havia uma pessoa responsável por desinfetar as compras dos utentes, uma única pessoa para não correr riscos.

 

CÉLIA QUEIRÓS (Centro Social do Pinhão)

No fundo nós já tínhamos algumas medidas, foi mais um reforço na parte da higienização. Os meninos tiveram que ficar em casa desde Março. Críamos um grupo na internet onde os pais também participavam e eu enviava atividades para eles fazerem. Dividimos em dois grupos: o do berçário e o das crianças de um e dois anos. Os meninos gostavam muito das atividades, participavam e nós partilhávamos no grupo os trabalhos que eles faziam. Eu propunha as atividades e eles em conjunto com os pais faziam. Com o regresso, no início, sobretudo os mais pequeninos, não nos conheciam o rosto com o uso da máscara, mas com os dias a passar e depois pela voz, tornou-se mais fácil e já nos conheciam. Durante o confinamento, fizemos equipas Espelho, trabalhava com as colegas. Dava apoio na área da medicação, na cozinha, na lavandaria. Tivemos que nos adaptar a novas funções, com todo o gosto, uma vez que também necessitavam. Somos uma equipa, temos que trabalhar em equipa! Complementando com as atividades que fazia em casa para os meninos. Tentava conciliar o meu horário com determinados trabalhos que fossem necessários. Fomos a casa dos meninos levar as lembranças por altura da Páscoa: levamos a máscara, luvas e avental. Continuamos ainda hoje a usar! No regresso, grande parte das medidas já tínhamos adotadas: os meninos do berçário ficam na salinha deles e só os mais velhos é que vão almoçar ao refeitório. Para além das medidas que já tínhamos, tais como no que respeita às mudas de roupa e o calçado… agora lavamos mais frequentemente as mãos.

 

LUCÍLIA VIEIRA (RSI)

O nosso trabalho é de grande proximidade com as famílias e a partir do mês de Março não pudemos fazer esse trabalho, mas em alternativa foram feitos bastantes telefonemas com as famílias: uns diários e outros semanais, dependendo do contacto feito anteriormente. Também foram feitos contactos com as instituições, ao nível do acompanhamento do apoio domiciliário e com os centros de saúde, porque muitas consultas deixaram de ser feitas… Muitos dos beneficiários não percebiam o que se estava a passar, o que era isto da Pandemia: tentamos explicar da melhor maneira possível. Alguns, de mais idade, não sabiam os cuidados que eram necessários, foi-lhes explicado o que era preciso. Tínhamos também beneficiários em Centro de dia, que deixaram de ir. Nós fazíamos o acompanhamento telefónico e através das instituições. Atualmente estamos a trabalhar no gabinete, a fazer atendimentos com marcação e muitos outros pelo telefone. E agora vamos retomar as visitas domiciliárias, tendo o cuidado de usar máscara e desinfetante, de não haver proximidade e a viatura que usarmos tem que ser desinfetada sempre antes e depois do uso.

 

ESTELA TEIXEIRA (RSI)

As alterações foram bastantes desde logo porque o serviço ficou suspenso. Deixaram de ser efetuadas as visitas domiciliárias e os atendimentos presenciais. Os atendimentos foram assegurados por telefone por todos os elementos da equipa. Tentamos efetuar os telefonemas de forma a que a pessoa ficasse com uma figura de referência, com quem a pessoa estivesse mais próxima. Nem sempre era o técnico, às vezes acontece de ser o AAD. Foi difícil porque os nossos utentes trocam muitas vezes de telefone, mas como grande parte deles são acompanhados em serviço de apoio domiciliário pelas IPSS’s do concelho, promovemos o contacto permanente com eles. Esta foi a grande alteração. Ainda assim e em tempo de confinamento entraram 17 novos requerimentos de RSI. As entrevistas foram feitas telefonicamente e posteriormente, quando foi possível averiguar e fazer domicílio, 3 desses depoimentos correspondiam a falsas declarações. As renovações foram asseguradas na plataforma ASIP. Também foram efetuados contactos com o Centro de Saúde. Temos também alguns utentes que fazem trabalhos sazonais em França e Espanha e que regressaram em plena Pandemia. Estes dois países estavam em bem pior situação do que a nossa no que toca a número de infeções e junto do Centro de Saúde e GNR tentamos sinalizá-los no sentido de serem tomadas precauções extra. Atualmente vamos retomar agora as visitas, porque não houve da parte da Segurança Social uma diretiva clara no sentido de se fazer. Eram só válidas as visitas de carácter urgente. Neste momento vamos retomar visitas e atendimentos, evitando que sejam feitas por qualquer motivo e sempre através de agendamento prévio. Temos que tomar as medidas necessárias que a DGS determina e recomenda.

 

CONCEIÇÃO BORGES (Creche | Alijó)

Tivemos que mudar de secção, fui para o lar. Era lá necessária e fiz de tudo um pouco! Estive na lavandaria, nas limpezas um dia e depois pediram-me para ir para a cozinha. O horário era seguido, das 08 horas às 16 horas. Os cuidados passavam por usar o equipamento e não entrar com nada da rua: trocar o nosso calçado, usar a máscara, as plainas, a farda, o avental e a touca e a desinfeção das mãos. O que me incomodava mais era a utilização da máscara, principalmente a cozinhar. Com a alteração dos horários tivemos também de estar disponíveis para os fins de semana, para o serviço que nos pediram. Foi difícil estar longe dos meninos, mas tivemos que nos adaptar às situações. O regresso foi normal, notei-os felizes! Ao nível dos cuidados, são os básicos: nós entramos na porta das colaboradoras. O calçado que trazemos de casa fica no local próprio, desinfetamos as mãos, pomos a máscara e vestimos o equipamento, fazemos a higienização das mesas e do material que usamos e nos diz respeito.

 

SUSANA NARCISO (Creche | Alijó)

Na altura tive de ir dar apoio a outras valências da SCMA. A diretora técnica ligou-me para perceber a minha disponibilidade. No início hesitei um bocadinho, mas disse logo que sim porque havia gente que precisava. Fui para o SAD, fui para a UCCI e andei também a limpar a Farmácia… onde foi preciso! Onde me custou mais um bocadinho foi no SAD porque não estava preparada para fazer a higiene dos utentes. Tive um pouco de receio porque estamos mais em contacto com as pessoas, apesar de termos os cuidados básicos, as luvas, o fato próprio… Ajudámos onde foi preciso! Os turnos foram diferentes: nós aqui tínhamos os sábados e domingos de descanso e nas outras valências tínhamos de trabalhar mais um bocadinho. De resto, correu tudo muito bem. Foi mais uma experiência. Nunca pensei em passar por esta situação, mas gostei muito. Foi uma mais valia porque aprendi muita coisa. Cresci também muito com isto e fiquei feliz por agora regressar ao meu local de trabalho porque adoro estes meninos. São tudo para mim porque adoro o que faço! Eles ficaram muito felizes e espero que isto passe e nós continuemos a ter a nossa casa aberta e que corra tudo bem. O meu marido é bombeiro e tem um emprego de risco. Eu pedia-lhe para ter todos os cuidados, mas era difícil. Tenho dois filhos e é muito complicado a relação com este trabalho. Primeiro tirava a roupa do trabalho e só depois deixava os meus filhos estar em contacto comigo, queria prevenir antes que as coisas pudessem acontecer. Mas correu bem tanto com o meu marido como comigo. Tendo cuidado tudo se resolve! O regresso tem sido uma maravilha: as crianças estão contentes e alegres. Acho que enchem a casa de alegria, estão muito felizes. Estão bem e no cantinho deles!

 

MARISA RUA (Creche | Alijó)

Quando nos foi anunciado no dia 13 de março que iríamos ficar em casa eu pensei que seria por poucos dias, mas afinal a realidade tornou-se um pouco diferente. Tivemos que ficar em casa e foi muito complicado porque sabíamos que iríamos perder o contacto diário com as crianças, com os familiares e isso era impensável. Como vocês sabem a nossa profissão é de afetos, há o tocar, o beijar e o abraçar. Temos as rotinas instituídas e tudo isso se ia perder… então entre nós decidimos criar um grupo de educadoras e um grupo de pais onde podíamos continuar a comunicar entre nós e enviar os trabalhinhos aos meninos. Eu senti muita dificuldade nesse sentido, porque sou de outra geração e tive que solicitar a ajuda da minha filha. Não sabia instalar por exemplo o Zoom, mas depois tudo correu da melhor forma. Conseguíamos então contactar com os meninos, continuamos a contar histórias e a fazer as nossas atividades que estavam programadas no plano anual de atividades porque o confinamento com o dia da mãe, do pai e com a páscoa e tudo isso tinha de continuar a ser trabalho para que os meninos não perdessem o contacto visual connosco. Na parte da família foi também muito complicado. Como sabem eu sou casada com um profissional de saúde e nessa altura ele andava a fazer os testes à Covid e então nessa altura os cuidados de higienização em casa tiveram de ser redobrados. Tivemos um bocado de receio, mas tudo correu dentro da normalidade. O regresso, quando nos disseram que tínhamos de regressar, fiquei com um bocado de expectativa pela forma como os meninos nos iriam receber de máscara, mas correu tudo normalmente. Os meninos já vinham com algumas regras instituídas de casa, como a lavagem das mãos. Eles acataram muito bem as nossas regras, desde terem que se sentar em cadeiras identificadas, não haver contactos… É muito difícil porque a tendência dos meninos é contactarem, é beijarem e abraçarem, torna-se complicado mas nós estamos a seguir as regras da DGS e penso que está a correr tudo dentro dos conformes. Os pais são sensíveis às necessidades, vêm trazê-los com máscara e vêm buscá-los com máscara.  Mesmo que mandem algum familiar, estão a cumprir muito bem as regras. Penso que todos nós aprendemos um bocado com isto, mesmo as situações negativas e más trazem-nos sempre alguma aprendizagem. Eu tentei ver que as coisas não podem ser dadas como adquiridas e temos que ir viver um dia de cada, dando valor a pequenas coisas da vida. Está tudo a correr muito bem, melhor do que o que eu estava a pensar na altura.

 

TATIANA MARTINS (Farmácia)

Durante o confinamento tivemos que reajustar a farmácia. Começamos a fazer o atendimento com o postigo. Tivemos que fazer alterações quer no horário da equipa como também da farmácia. Tivemos que nos reajustar ao nível da metodologia de trabalho. Promovemos também cuidados acrescidos de higiene, desinfeção constante, cuidado com o multibanco, desinfeção das mãos… As pessoas reagiram de forma paciente, compreenderam e reagiram bem. Pedimos sempre que no atendimento, mesmo sendo na rua, que as pessoas tentassem manter a distância entre elas e de forma ordeira tentaram respeitar o máximo possível. A receção das encomendas era efetuada na parte de trás da farmácia. Os funcionários não entravam dentro da farmácia, nem mesmo os medicamentos, que eram transferidos para uma caixa secundária e só depois entravam na farmácia, mediante desinfeção das caixas. Reabrimos as portas, o atendimento é feito com base no acrílico, as medidas de higiene têm sido mantidas e manter a distância de segurança entre pessoas. Ainda durante o confinamento, também fizemos um reajustamento da forma como trabalhamos nas redes sociais, telefone e e-mail por forma a que as pessoas pudessem fazer o pedido e não tivessem de vir à Farmácia diretamente. Fizemos entregas ao domicílio e criámos uma plataforma que permitia aos funcionários da SCMA fazer o seu pedido da medicação e nós depois mais tarde fazíamos chegar a medicação. Foi um hábito que as pessoas criaram e mesmo depois do pico da pandemia continuou a ser usado. De uma forma geral as pessoas abasteceram-se de medicação crónica e alguns suplementos de imunidade. Também para a insónia, notou-se que durante o confinamento as pessoas ficaram muito depressivas, tristes e notou-se que essa gama de medicamentos foi mais procurada.

 

ANA REGINA ARAÚJO (ERPI)

Tivemos que fazer uma grande alteração de funcionamento e rotinas. Criámos circuitos de entrada e saída de funcionários, por exemplo. Uma divisão de refeitórios para que se conseguisse manter o distanciamento físico entre utentes, apesar de ser muito difícil. Ao nível dos funcionários, houve horários de doze horas e quem fazia horário partido, começou a fazer contínuos, por exemplo. Houve desfasamento de entrada e saída de funcionários. Houve teletrabalho e tentou-se minimizar o contacto com os utentes. Por exemplo, sempre que possível ir o mesmo funcionário aos mesmo utentes. O mais difícil foi mesmo a pressão que tínhamos, de tentar que tivéssemos o mínimo de condições para que nada acontecesse. É difícil de lidar com os idosos e convencê-los de que as rotinas mudaram. No início não percebiam o porquê de usar máscara ou viseira, pareciam que estávamos todos doentes na cabeça deles. Em termos pessoais e com a família, foi um horror. Tenho um filho menor, o marido também trabalha aos fins de semana e também teve de trabalhar por turnos e foi um bocadinho difícil de conciliar tudo! No final tudo correu bem! Agora começa-se a sentir uma enorme pressão porque vem o pico da gripe, está prevista uma segunda vaga e parece que estamos a começar a reviver o início da pandemia novamente. Agora já temos outros conhecimentos e equipamentos, já sabemos o que nos espera, o que nos permite também conseguir gerir melhor uma próxima vaga.

 

RAFAELA SILVA (ERPI)

As principais alterações foram ao nível do horário de trabalho e dos recursos humanos. Éramos menos e a nível psicológico fez diferença porque era mais cansativo. Tanto para nós funcionários como para os utentes. A carga horária era de doze horas durante dezoito dias, era equipa espelho. Eu tive de entrar mais cedo porque tivemos dois casos falsos positivos, mas a casa tomou medidas e as senhoras foram postas em isolamento. A nível psicológico foi mais complicado porque estávamos sozinhas com utentes e nem podíamos conviver muito com elas por causa do contacto. Inicialmente quando me foi falada a possibilidade de haver casos positivos, não pensei duas vezes e vim logo, em primeiro lugar os utentes. Isto porque, mais facilmente curávamos nós e tínhamos uma vida normal, do que eles. Depois com o passar do tempo senti mais debilidade por estar fechada e não ter contacto com as colegas, sentíamo-nos um pouco sozinhas. Não havia presença humana, que era o que nos fazia mais falta. Ao nível pessoal, não passava tanto tempo em casa. Os cuidados eram redobrados. Eu estive aqui durante nove dias seguidos, não fui a casa, só que o meu namorado já estava preparado para esta possibilidade. Em termos de relação não nos afetou muito mas sim, o afastamento foi difícil. Agora diminui o lado da carga horária, sinto os utentes um pouco revoltados com a falta de afetos da família. Nós podemos dar, mas o da família é essencial e nós isso não conseguimos transmitir. Embora sejamos uma família, damos o afeto, mas se calhar o que eu vou dar aquela utente não é o mesmo que dá uma filha ou uma neta, é diferente. Sentimos que estão um bocadinho fragilizados nesse sentido. Desde que entramos desinfetamos as mãos, usamos as máscaras. Nunca entramos com a nossa roupa ou lancheiras, é tudo desinfetado. Fica tudo no nosso vestiário! Sempre o uso de luvas, avental, desinfeção das mãos periodicamente e a mudança de luvas de utente para utente também. Dar o aconchego necessário sim, mas sempre com a devida distância que é fundamental!

 

HORTENSE REBELO (UCCI)

Fazíamos das 08.00h às 18.00h e outra 10.30h às 20.30h, que era para ficar assegurada a noite e o serviço da tarde. O que mudou no serviço foi que tivemos de desinfetar mais os corrimões, interruptores da luz, os puxadores das portas e limpar sempre mais e melhor. Nós usamos sempre máscaras, as luvas e os aventais já usávamos, e os óculos. A maior dificuldade foi a adaptar o uso da máscara durante dez horas. Foi muito complicado! As maiores alterações foram ao nível do horário porque ao nível do serviço é mais ou menos a mesma coisa, vamos mantendo… O vírus continua cá! Alguns utentes não reagem muito bem, porque veem as notícias e apercebem-se que há “o bicho” e que é por causa dele que não têm visitas. Há um caso ou outro que não dá conta, mas no geral notou-se um bocadinho!

 

ANA RAQUEL VAZ (UCCI)

No início estávamos todos muito apreensivos, embora já existisse o PPCIRA e já tínhamos algumas regras dentro da instituição, de limpeza e desinfeção e por isso foi um bocadinho mais fácil de nos adaptarmos. Tivemos de reintroduzir novos horários, mais desinfeção, mas em termos de alterações estruturais foi mais quando tivemos de nos dividir em equipas, o que causou mais um bocadinho de constrangimento. Mas em termos de horários e de serviços… mas em termos de desinfeção, lavagem das mãos… tudo aquilo que o Coronavírus veio despertar, já era um bocadinho hábito da instituição realizar. A equipa de enfermagem trabalhou em equipa espelho, as auxiliares também. Os utentes acabaram por não se aperceber tanto, mas perceberam que era algo grave e que iríamos ter novas regras. O que lhes causou mais constrangimento foi o cancelamento das visitas. Aí sim, notou-se uma preocupação nesse sentido. Atualmente as visitas já estão a ser feitas através de uma porta de vidro onde eles não têm qualquer contacto. Muitos queixam-se que não conseguem ouvir, queixam-se de ser apenas uma pessoa, uma vez por semana… e é isso que causa mais constrangimento. Os novos utentes são admitidos normalmente, têm de ter o teste Covid negativo, estão em isolamento durante quatorze dias num quarto próprio individual, em que a auxiliar e a enfermeira entram devidamente equipados e ao fim dos quatorze dias saem do quarto e regressam ao convívio como qualquer doente, isto se não desenvolverem quaisquer sintomas de Covid-19.

 

ALEXANDRA BATISTA (Secretaria)

Foram criadas duas equipas. Nós como somos sete, ficaram 3 numa equipa e quatro noutra e trabalhávamos em dias interpolados. No resto dos dias, alguns elementos funcionavam em regime de teletrabalho. Trabalhamos basicamente os mesmos horários. Em casa, em teletrabalho, é que se podia gerir melhor o horário, mas as dinâmicas e o serviço era realizado na mesma forma. Não foi muito fácil dar resposta às solicitações: ao nível dos utentes sim, porque funcionou muito à base de, por exemplo, transferências bancárias para reduzir a vinda à secretaria. Ao nível dos funcionários funcionou muito à base do telefone e nós tentamos resolver os problemas dessa forma. Correu tudo dentro da normalidade, sendo que sempre foram havendo alguns constrangimentos, mas ultrapassou-se. Muitas das doações à SCMA funcionaram connosco a fazer os pedidos às empresas, tanto daqui como para as valências, o que fez com realmente se conseguissem bastantes doações nessa altura. As principais medidas de higienização foram o uso das máscaras, a higienização das mãos e dos espaços. No fundo nós aqui conseguimos estar a trabalhar com algum distanciamento uns dos outros. Criamos um pequeno gabinete na parte de fora da secretaria onde fazemos o atendimento ao público e as pessoas deixaram de ter acesso à secretaria. Basicamente, quando as pessoas vêm uma de nós vem cá fora e atende a pessoa nesse pequeno gabinete no hall de entrada.

 

 CARLOS MAGALHÃES (Vice-Provedor)

Foi uma situação muito complicada para toda a gente e naturalmente para a Misericórdia. Ninguém esperava por isto e a Misericórdia, desde logo, teve de se adaptar. Logo desde início foi feito um plano que se aplicaria no caso de verificação de casos positivos, o tal plano de contingência, que se aplicou e que toda a gente sabia dele. Primeiro os diretores e depois os funcionários, para que toda a gente soubesse bem o que tinha a fazer. A situação foi muito complicada e ainda hoje o é: toda a gente sentiu medo, algum receio e alguma preocupação. Aquela situação do confinamento tornou as coisas piores, no meu ponto de vista, porque se vivíamos com receio, começou-se a verificar o pânico. Cada um vivia para si, pouco se conversava… O que se falava era quase tudo por vídeo ou videoconferência… Nada quase preferencialmente. Na Misericórdia tivemos sorte com os nossos funcionários, porque foram eles que estiveram sempre na linha da frente, no primeiro embate. Os funcionários foram, como se tivéssemos numa situação de guerra, aqueles que tiveram nas trincheiras lá na frente e nós, da Mesa, estávamos um bocado salvaguardados e seríamos a artilharia, sempre protegidos pela infantaria. Isso para nós foi um sossego e um conforto grande, saber que temos funcionários que estiveram à altura das responsabilidades exigidas e a dar conta daquilo que era necessário. Acabaram por ser os combatentes da primeira linha e depois os heróis desta batalha, pelo menos até agora, e espero que assim continuemos na nossa instituição. Os funcionários que estavam com os doentes, os idosos e também com as crianças estiveram sempre presentes. Nós na Mesa também sentimos um bocadinho a necessidade de, como não estávamos na linha frente, manifestar o nosso apoio, solidariedade e conforto através de conversas e vídeos que enviávamos e que todos enviaram. Eu no início falava diariamente com cada uma das diretoras técnicas: no Pinhão, na creche, no Lar e também na Farmácia. Sempre, todos os dias! Saber como estavam, o que se passava e o que estavam a sentir. No fundo foi isso que se viveu! Continuamos todos a sentir um bocado de receio, já não se sente tanto o pânico, mas receio que as coisas se agravem, sobretudo nas áreas dos idosos onde as coisas se complicaram um bocadinho e a Misericórdia não foge à regra. Foram adotadas medidas de proteção e higienização como qualquer instituição também adotou e, portanto, nós também, sempre com o critério de ser cada um dos diretores técnicos o responsável por cada uma das suas valências, mas foram tomadas medidas concretas de desinfeção das mãos, dos espaços, o uso de luvas e máscaras. Muito embora hoje se diga que as luvas não terão a eficácia que à partida se julgava, mas a verdade é que todas aquelas medidas que a DGS indicava e a Misericórdia adotou-as. A reabertura tem o problema de haver uma disseminação do vírus. Felizmente vivemos num concelho onde não existe essa disseminação, existem casos isolados que aparentemente não têm grande relevância… O receio é esse, que com a abertura possa haver uma propagação do vírus. Tem de haver medidas concretas para que não haja contacto total e direto para com os utentes. Se houver uma segunda vaga penso que estamos preparados para isso, qualquer instituição está e a Misericórdia não foge à regra. Se houver um refechamento a Misericórdia está preparada para isso.

 

 

PATRÍCIA CARDOSO

Na altura foi complicado porque não sabíamos explicar aos idosos como fazer, era confuso, tínhamos de fazer atividades individuais. No início foi estipulado fazermos turnos, no meu entender fazia falta aos idosos estarem mais ocupados, não estarem a ver tantas notícias e não se aperceberem da gravidade da situação. Apesar de eles deverem saber o que é o vírus, mas não estarem sempre a ver notícias acerca desta temática. Pedi para não trabalhar por turnos e vir a semana toda trabalhar durante a quarentena. Os utentes tiveram dificuldade em perceber o porquê de termos de usar máscara, de usar viseiras, de não darmos beijos, de manter distância entre as cadeiras, era complicado perceberem estas dinâmicas. Começaram a ser feitas videochamadas consoante as famílias iam pedindo, no início era uma coisa nova, mas agora estão mais habituados. Foi difícil gerir os sentimentos, o facto de não podermos dar miminhos, abraços, há utentes que nos pedem e não o podemos fazer porque temos receio de trazer para dentro o vírus e saber que podemos ser nós a trazer deixa-nos preocupados. Neste momento damos o material aos utentes, desinfetamos o material no final, as atividades têm de ser realizadas por forma a haver distanciamento entre os utentes, colocamos dois ou três por mesa, e depois desinfetamos todo o material.

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